terça-feira, 23 de novembro de 2010



A missão de ser mãe quase sempre começa com alguns meses de muito enjôo, seguido por anseios incontroláveis por comidas estranhas, aumento de peso, dores na coluna, o aprimoramento da arte de arrumar travesseiros preenchendo espaços entre o volume da barriga e o resto da cama.

Ser mãe é não esquecer a emoção do primeiro movimento do bebezinho dentro da barriga.

O instante maravilhoso em que ele se materializou ante os seus olhos, a boquinha sugando o leite, com vontade, e o primeiro sorriso de reconhecimento.

Ser mãe é ficar noites sem dormir, é sofrer com as cólicas do bebê e se angustiar com os choros inexplicáveis: será dor de ouvido, fralda molhada, fome, desejo de colo?

É a inquietação com os resfriados, pânico com a ameaça de pneumonia, coração partido com a tristeza causada pela morte do bichinho de estimação do pequerrucho.

Ser mãe é ajudar o filho a largar a chupeta e a mamadeira. É levá-lo para a escola e segurar suas mãos na hora da vacina.

Ser mãe é se deslumbrar em ver o filho se revelando em suas características únicas, é observar suas descobertas.

Sentir sua mãozinha procurando a proteção da sua, o corpinho se aconchegando debaixo dos cobertores.

É assistir aos avanços, sorrir com as vitórias e ampará-lo nas pequenas derrotas. É ouvir as confidências.

Ser mãe é ler sobre uma tragédia no jornal e se perguntar: E se tivesse sido meu filho?

E ante fotos de crianças famintas, se perguntar se pode haver dor maior do que ver um filho morrer de fome.

Ser mãe é descobrir que se pode amar ainda mais um homem ao vê-lo passar talco, cuidadosamente, no bebê ou ao observá-lo sentado no chão, brincando com o filho.

É se apaixonar de novo pelo marido, mas por razões que antes de ser mãe consideraria muito pouco românticas.

É sentir-se invadir de felicidade ante o milagre que é uma criança dando seus primeiros passos, conseguindo expressar toscamente em palavras seus sentimentos, juntando as letras numa frase.

Ser mãe é se inundar de alegria ao ouvir uma gargalhadinha gostosa, ao ver o filho acertando a bola no gol ou mergulhando corajosamente do trampolim mais alto.

Ser mãe é descobrir que, por mais sofisticada que se possa ser, por mais elegante, um grito aflito de mamãe a faz derrubar o suflê ou o cristal mais fino, sem a menor hesitação.

Ser mãe é descobrir que sua vida tem menos valor depois que chega o bebê.

Que se deseja sacrificar a vida para poupar a do filho, mas ao mesmo tempo deseja viver mais – não para realizar os seus sonhos, mas para ver a criança realizar os dela.

É ouvir o filho falar da primeira namorada, da primeira decepção e quase morrer de apreensão na primeira vez que ele se aventurar ao volante de um carro.

É ficar acordada de noite, imaginando mil coisas, até ouvir o barulho da chave na fechadura da porta e os passos do jovem, ecoando portas adentro do lar.

Finalmente, é se inundar de gratidão por tudo que se recebe e se aprende com o filho, pelo crescimento que ele proporciona, pela alegria profunda que ele dá.

Ser mãe é aguardar o momento de ser avó, para renovar as etapas da emoção, numa dimensão diferente de doçura e entendimento.

É estreitar nos braços o filho do filho e descobrir no rostinho minúsculo, os traços maravilhosos do bem mais precioso que lhe foi confiado ao coração: um Espírito imortal vestido nas carnes de seu filho.

sábado, 16 de outubro de 2010



Só ele conheceu uma mulher corajosa que admitiu todos os medos, todas as neuroses,
todas as inseguranças, toda a parte feia e real que todo mundo quer esconder com chapinhas, peitos falsos, bundas falsas, bebidas, poses, frases de efeito, saltos altos, maquiagem e risadas altas. Ninguém nunca me viu tão nua e transparente como você, ninguém nunca soube do meu medo de nadar em lugares muito profundos, de amar demais, de se perder um pouco de tanto amar, de não ser boa o suficiente.
Só ele viu meu corpo de verdade, minha alma de verdade, meu prazer de verdade,
meu choro baixinho embaixo da coberta com medo de não ser bonita e inteligente.
Só para ele eu me desmontei inteira porque confiei que ele me amaria mesmo eu sendo
desfigurada, intensa e verdadeira, como um quadro do Picasso.

Tati bernardi

sexta-feira, 17 de setembro de 2010



Tenho vontade de perguntar baixinho: você não gosta nem um pouquinho de mim? Nem sequer um tiquinho? Olha só: eu tenho os dedinhos do pé bem estranhos. Eles não são absurdamente merecedores de amor?

terça-feira, 17 de agosto de 2010



Eu quis que ele não soubesse meu nome, depois quis ter o dele logo depois do meu. Eu quis que ninguém soubesse de tamanha traição. Depois quis gritar na janela como o proibido era sopro no meu coração.
Eu quis sentir o poder de abalar com a vida dele. Depois quis que ele voltasse direitinho pra casa e esquecesse que existe a fraqueza.

domingo, 15 de agosto de 2010

O amor é uma doença



Eu não sei guardar coisas. Se eu compro chocolates, como todos no mesmo dia.
Se eu compro balas, chicletes, devoro todos em minutos, compulsivamente.
Detesto saber que algo me espera, quero acabar logo com aquilo.
Não sei lidar com a responsabilidade da felicidade. A felicidade guardada na bolsa ou na vida.
Eu tenho um homem lindo me esperando essa hora, e eu quero com todas as células do meu corpo ir ao encontro dele.
Mas eu não sei lidar com tanta felicidade, por isso estou planejando a morte dele.
Estou planejando matá-lo com minha estupidez, quero que ele morra fulminado pelas minhas armas de boicote.
Quero que ele perceba o quanto sou chata, ciumenta, louca e doente. E que ele enjoe logo da minha cara abatida de intensidade. Que ele pegue logo bode do meu cansaço em viver tanto, porque vivo muito mesmo quando estou deitada olhando para um ponto fixo.
É tão cansativo ser eu mesma com todos os meus medos e neuroses, e quero que ele sinta o fardo do meu peso.
Morra e me liberte dessa alegria incontrolável. Passe desta para uma melhor, porque eu sou um lixo.
Eu lembro daquele conto da Clarice em que a garotinha ruiva guardava os contos para ler depois, porque queria prolongar o mistério da felicidade.
Pois eu quero mais é botar fogo em todos os contos de felicidade que a vida escreve para mim, porque por alguma razão maluca a felicidade me escraviza, me paralisa, me faz ficar triste.
Eu olho para você e tenho tanta, mas tanta alegria em saber que você existe, que sinto ódio. Ódio de eu não mais esperar por você.
O sentido da minha vida era encontrar você. O motivo para eu seguir adiante nos corredores
escuros e bater em portas obscuras, era a sua busca.
Agora que você está sentado numa sala clara e óbvia, não preciso mais me enfiar em buracos.
Mas os buracos eram a única trilha que eu conhecia.
Você me soltou na atmosfera e eu estou voando. E eu sinto saudades do buraco, da espera, da angústia.
Eu sinto falta de olhar triste para o espelho e me sentir metade. Agora que eu tenho você,
nem perco mais meu tempo olhando para o espelho, porque só tenho olhos para você.
Você me roubou de mim mesma. E eu sou tão ciumenta que estou com ciumes de mim.
Você me tirou da minha vida incompleta. E me transformou numa completa idiota.
O amor é uma doença.
Eu sinto náuseas, febres, dores musculares.
Eu acordo assustada no meio da noite. Eu choro à toa.
Eu estava do lado da sujeira, eu era a outra, eu estava por dentro do crime.
Você me fez sentir um mundo limpo, verdadeiro e eterno. E esse mundo é tão novo pra mim,
que eu te odeio. Que eu estou pequena nele, e preciso de você o tempo todo para me abraçar e dizer que está tudo bem.
E quando você não está por perto, eu caio. Porque não sei nada desse mundo de alegrias e coisas bonitas.
Você não me deu saída. Você transformou todas as vozes que me davam escapatórias para outros corredores, em sons sem lábia. Minhas saídas perderam as escadas escuras e charmosas, porque você lavou meu chão de imundícies com amaciante Fofo.
Se eu tentar fugir, escorrego no perfume da minha nova vida.
A nova vida que não sei viver.
A nova vida que quero viver ao seu lado.
Ao lado do homem que eu odeio porque nunca amei tanto.
Ao lado da felicidade que eu odeio porque se ela acabar, não sei mais se consigo voltar pra casa. E nem se quero.
Era eu, entende? Era eu que me atracava com o lado errado da vida para estar sempre certa.
Era eu a resposta para todas as perguntas que ninguém tem coragem de perguntar.
Sim, o mundo é imperfeito, as pessoas traem, o amor não existe, seu marido me come,
seu namorado me come, o mundo quer me comer enquanto você borda seu laço cor-de-rosa.
Agora eu estou aqui, inconformada com o seu passado, querendo matar suas lembranças.
Com ciumes do seu silêncio porque ele está com você há mais tempo do que eu e eu tenho medo do quanto ele te consome, com ciumes do seu sono porque ele te leva do meu foco.
Com raiva da sua importância porque ela me congela, com raiva do tempo que não dura para sempre quando você me olha sabendo das minhas loucuras e ainda assim me amando.
Agora eu estou aqui, querendo que todos os amores do mundo durem para sempre, e que nenês nasçam, e que árvores cresçam e que garotas vagabundas não nos invejem e que os desejos das nossas sombras não nos traia.
Agora eu estou aqui, de quatro, de lingua no chão, te odiando muito, virando a cara, socando você, cuspindo em você, te tratando mal, tudo isso porque não sei lidar com o mundo girando na minha barriga, a tontura do amor, o enjôo do vício em você, a dor do músculo quando me separo.
Pode parecer maluco, mas todas as minhas súplicas para que você desista de mim, é um jeito maluco de pedir que você não desista nunca, pelo amor de Deus.


- Tati Berbardi -

sábado, 3 de julho de 2010


Eles não se entendiam, raramente concordavam em algo, brigavam sempre e se desafiavam todos os dias. Mas apesar das diferenças tinha algo em comum: eram loucos um pelo outro.

sábado, 26 de junho de 2010



O tempo se apossou do que havia. Foi quando pude te explicar que as minhas expectativas não eram exigências. Já que fomos tão inábeis para o amor, restou enfim, essa ternura encabulada e nossas conversas pela madrugada numa hora em que a saudade nos constrói as frases com todos os adjetivos mais suaves para não espantar o sono. E a consciência de que não há mais tempo para usufruir o que não foi aproveitado a tempo. Por isso choramos apenas por dentro sem deixar que nossa voz denuncie nosso olhar raso de esperas intactas. Por isso tanta doçura nas palavras pra não ferir ainda mais essa melodia frágil e cheia de melancolia. E essa tentativa de que o abraço, apenas escrito, tenha outras formas de tocar. Porque queríamos a mesma coisa, exatamente o que nos faltava e que não soubemos porque não tínhamos para dar. Seguimos, ainda assim, unidos não por sentirmos o mesmo amor, mas por compartilharmos aquela mesma solidão.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Abraço noturno



Você me deu o melhor abraço noturno que alguém já me deu e depois deixou meus braços órfãos. Você me fez ler um escritor que eu não estava a fim para que eu entendesse a sua filosofia de vida. Fez-me tomar uma garrafa inteira de vinho sozinha com seu atraso e me encontrou de pilequinho só pra rir um pouco dos meus desvarios. E me fez querer que fosse sábado no domingo... Você tentou me convencer que estava tudo bem entre nós quando meu coração estava intranqüilo. Você me deixou sozinha e ainda estava ao meu lado. Visitou a minha casa, preencheu o lado esquerdo da minha cama e foi embora em algum momento sem se despedir... Porque você me fez escutar a mesma música sozinha trilhões de vezes porque a melodia trazia um jeito seu pra perto. Porque você me roubou a solidão e não me fez companhia... Porque eu ainda gostaria de você ? Porque quando uma pessoa vai embora, nem sempre o que se sente por ela vai junto...

quarta-feira, 26 de maio de 2010



Ah se eu pudesse enfim saber o quanto de mim ainda resta em você... Voce não sai da minha cabeça. E isso dói...
Sem sucesso, tentava me distrair com a arrumação da casa, a lista de compras e até mesmo o computador. Mudava de estratégia, ligando a tv e trocando os canais de forma rápida, sem ao menos conseguir escutar uma ou duas palavras do repórter ou da atriz. Aquilo não me interessava, não me surpreendia.
Deixava então o controle remoto no sofá e ia andar pela rua na intenção de que o vento gelado esfriasse meus pensamentos e os levassem para bem longe de mim.
Eu só queria gritar pro mundo inteiro ouvir que não te amo mais, mas não posso gritar, não tenho coragem de mentir assim.
Já tentei te esquecer, e quis parar de ter você no meu peito. E tudo que eu tenho a fazer agora é escrever, e fazer com que tudo que eu sinto passe pro papel. Vou tentar fechar os olhos, respirar e te tirar da cabeça.
Mas quanto mais eu tento, mais eu lembro. você podia me ajudar a te esquecer, fazer com que eu te odiasse.. Mas nem isso você consegue fazer por mim, porque a cada dia só me vejo mais apaixonada pelo seu jeito de ser.
E eu quero você pra mim, mas quero te esquecer. Porque você não me faz bem. Mas, meu Deus, é tão lindo quando ele sorri...
Aquela noite que eu te conheci, eu acho que nunca vou esquecer. Um momento quase perfeito, inocente em seus defeitos...
Tudo que é bom dura pouco...
E não acaba cedo...

sábado, 8 de maio de 2010



"O amor é uma doença. Eu sinto náuseas, febres, dores musculares. Eu acordo assustada no meio da noite. Eu choro à toa."


(Tati Bernardi)

sábado, 24 de abril de 2010

Dreads


Entrou pro movimento, fez chapa de oposição, se afogou num copo de Whisky, beijou o cara errado, tá solteira de segunda a sexta, fez dread no cabelo, chegou cheirando a cigarro.

sábado, 17 de abril de 2010

Hoje eu acordei...



Hoje acordei sem nada no estômago, sem nada no coração, sem ter para onde correr, sem colo, sem peito, sem ter onde encostar, sem ter quem culpar. Hoje eu acordei sem ter quem amar...

sábado, 3 de abril de 2010

Inevitável...



Se for questão de confessar, não sei preparar café e não entendo de futebol. Creio que alguma vez, fui infiel. Até UNO eu jogo mal e jamais uso relógio.
E para ser mais franca ninguém pensa em você como faço eu...Ainda que pra você dê no mesmo.
Se é questão de confessar,nunca durmo antes das dez, nem me banho nos domingos. A verdade é que também, choro uma vez por mês, sobretudo quando está frio.
Comigo nada é fácil, já deves saber, me conheces bem (E sem você tudo é tão triste).
O céu está já cansado de ver a chuva cair. E cada dia que se passa é um a mais parecido com ontem. Não encontro forma alguma de te esquecer porque seguir te amando é inevitável.
Sempre soube que é melhor, quando tiver que falar de dois, começar por você mesmo. Já sabe a situação, aqui tudo esta pior, porém ao menos ainda respiro.
Não tem que dizer isto, não vais voltar, te conheço bem(já saberei que fazer comigo).
Sempre soube que é melhor, quando se tem que falar de dois, começar por si mesmo.

sábado, 27 de março de 2010

Manual prático do amor moderno



Começou na segunda, e até sexta será a coisa mais intensa já vivida por mim. Prometerei amor eterno, e direi que você é o chão que me faltava, mesmo não sabendo nem mesmo o nome da sua mãe, ou se tem irmãos. Direi que agradeço a Deus toda noite por você ter aparecido na minha vida, mesmo que só por uma semana. Te amarei pra sempre -ou até amanhã. Uma semana é uma eternidade, portanto se segunda feira, aparecer um beijo mais viável, ou alguma jura de amor mais profunda que as suas, sentirei muito, ou talvez não sentirei nada. Por via das dúvidas, apague aqueles depoimentos, por que na próxima semana eu vou escrever alguns pra ele, que vão ser baseados nos que eu fiz pra ti, assim como os seus foram baseados naqueles do cara da semana retrasada e assim consecutivamente. Você foi a pessoa que mais me fez feliz na minha vida! mas enfim, tomara que o da semana que vem faça também.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Eu não sou suficiente.



Não sou a mais bonita, não sou a mais legal, mais simpática, mais rica, com mais contatos, eu simplesmente não sou suficiente. Não me sinto grande, não sinto que faço alguma diferença e definitivamente nunca fiz coisas importantes. Nunca fiz alguém chorar de verdade, todas as lágrimas eram de mentira. Até onde vivi uma mentira? Até quando vou escutar passos que não deveriam ser ouvidos?

Eu não sei dizer palavras bonitas, nem sei como fazer bem a alguém, talvez saiba fazer mal, mas se fiz mal foi de mentira como todas as outras coisas que não existiram. Se sorriu foi por educação. Se piscou foi cisco. Se deixou de amar, nunca amou. Aquela música nunca foi minha, os meus dias nunca foram como eu narrei. São invenções de uma mente insuficiente. Insuficiência de tudo, insuficiente de mim. Os passos ecoam, tapo os ouvidos, mas eles ainda estão aqui.

Se eu disse não era pra dizer. Se calei a boca era pra gritar. Falo demais, falo demais, nunca o suficiente, não sou suficiente. Não sou. Não sou. Pare de mentir, as malas estão sempre feitas, mesmo quando não se quer partir. O pior é ir aos poucos, o pior é ir indo, alternadamente. Mutilação diária. Eu ouço passos, eu ouço passos.

Eu não sou desse jeito que vê. Eu sou uma mentira, uma mentira mal-contada. Não sei mentir, não mais. Não tem mais brilho nos olhos, onde eles estão? Cadê? Não tenho olhos verdes e o monstro me persegue. Adivinha que não é o que eu quero, adivinha. Não fui esculpida. Não fui lapidada. Não sou arte. Nem rascunho. Sou página e ponto. Vermelho.

Insuficiente pra você.
Quem quer escutar o que não se quer ouvir?

domingo, 21 de março de 2010

Esquecer e perdoar...



'' Esquecer e perdoar. É isso que dizem por aí. É um bom conselho, mas não muito prático. Quando alguém nos machuca, queremos machucá-los de volta. Quando alguém erra conosco, queremos estar certos. Sem perdão, antigos placares nunca empatam, velhas feridas nunca fecham. E o máximo que podemos esperar é que um dia tenhamos a sorte de esquecer '' (Grey's anatomy)

segunda-feira, 15 de março de 2010

Refazer...




“Recomece. Renovar, re-existir. Crie, recrie-se, transforme o seu mundo em qualquer outro mundo. Coloque tudo no lugar, retire tudo do lugar. Arrisque, mude, exagere, dance, reviva. Você pode, nunca é tarde, vai lá, vai lá! Deixa esse passado pra trás, corra pelo seu futuro, vai! Adiante-se, você é capaz.

Re- recomece.


Ou não.


Deixe tudo como está, porque está bom, talvez não seja exatamente o que você quer, mas é assim, temporariamente imutável, seguro e é como vai ser. Assim: perfeitamente alinhado, desse jeito está e desse jeito vai ficar. Fique, deixe. Deixe tudo como está. É certo, já está assim, pra quê mexer?”


E agora?


Estava lá ouvindo as suas vozes interiores – e nossa, como elas falam! Repetiam alternadamente as duas opções que todo ser humano têm em qualquer época de suas vidas: manter ou mudar. Não, ninguém poderia escolher, opinar, mandar ou desmandar, porque a vida era dela e dela ela deveria cuidar. É responsabilidade que não se pode desviar de si, é seu, nasceu contigo, é dono do seu caminho e suas escolhas podem mudar toda uma jornada. Com um passo errado muda-se uma história, com um passo certo se constrói uma história. A questão é: como escolher esses passos? Não soube responder.


Batia o indicador na mesa impacientemente, suas vozes exigiam uma resposta que não tinha no momento e discutiam entre si. Era quase uma competição de qual voz iria escutar. Vaidade de vozes? Que loucura... Estaria enlouquecendo? Talvez, mas o talvez era tão incerto para uma certeza que precisava ter. Confusão de pensamentos, estalos de idéias, a incerteza da loucura e o indicador batendo na mesa. Parou, respirou fundo, saiu do mundo, caminhou até a janela, o vento.


Fechou os olhos e a sua respiração estava mais tranqüila com aquele carinho de Deus no rosto, os cabelos se permitindo embaraçar sendo levados pelo mais abstrato das sensações. O sentir e não ver. O acalanto da alma, pois tudo o que vem, vem no momento certo. Abriu os olhos e dali mesmo descobriu o mistério. A resposta estava exatamente nesse delicado gesto.


Abra os olhos e logo verá que só há três opções: o chão, o horizonte, o céu.

Onde desejas chegar?

domingo, 14 de março de 2010

Liberdade




Chegou em casa, jogou as chaves na mesa de centro, despiu-se e tomou um longo banho. Dormiu como um anjo, com a naturalidade de uma pecadora. Sorriu, nunca fora tão respeitada, nunca se respeitou tanto.

sábado, 13 de março de 2010

Última carta



Querido Alguém,

Esta é a última carta que escrevo a ti, uma carta cheia de lágrimas e sentimento. Se pudesse escolher não a escreveria, mas não posso. Decidiu-se. Por si só.

O destino pregou a peça da dor em mim e dói. E muito. O meu mundo veio por água abaixo e não quero admitir, mas o destino é coisa tão complicada que não adianta muito tentar entender. Pensei que eu te magoaria, com todas as minhas indecisões e devaneios, mas foi você que me magoou inúmeras vezes. Foi a mim que machucou a facadas, como se eu realmente nunca tivesse existido em mim. Sabe o quão paradoxo é isso?

Criou paradoxos em minha vida, criou o sentimento mais lindo do mundo, criou a dor mais mortal de todas, criou o nó na garganta, o passo apertado... Tu ainda és o artesão dos meus dias, pois ainda incide total presença neles dentro de mim. Você nunca me amou, fato; e eu me deixei cair em seus braços como criança que começa a andar, o que se faz verdade. Você me ensinou a andar pelos seus caminhos, pena que me fez voltar.

Nunca me amou, pois me descartou sem tentar, porque me deixou ir embora, porque existe alívio em seu coração. Saber que a minha falta te alivia me consome, não tens noção do que arrancou de mim. Meus sorrisos não são mais sinceros, minha vivacidade se tornou fosca, meu olhar não anda mais o mesmo e por quê? Por um destruidor. Fui destruída covardemente afundada em sonhos que nunca serão concretizados. Tentei.

Tentei ser o melhor por nós dois, tentei te fazer feliz, que nunca pudesse me esquecer e hoje estou morta pra ti. Estou morta pra mim também, o mundo mais belo existente virou pó, virou foto na carteira, virou música. Ouço a sua voz e choro, sem medo de admitir, porque ainda sinto. Sinto o amor que tenho por você escorrer pelos meus olhos todos os dias desde então.

Disseram que vai passar que vai virar coisa bela, que vou voltar a sorrir e vou sim, uma hora vou voltar a sorrir, mas não agora. Agora por onde passo lembro de ti e não sei de onde sinto seu cheiro. Isso sangra lentamente e a saudade corrói o que resta e já não resta muita coisa.

Eu amo você e isto não mudará, tudo que passamos juntos foi lindo e nessa beleza nos perdemos e não nos encontramos mais. A tristeza que fica é de dias tão belos que não voltarão. E nem eu voltarei, não mais, não sempre, não sua.

Quero lhe parabenizar por ter me destruído, logo a mim tão confiante. Ficarás marcado como meu destruidor, quem contornou a muralha que existia dentro de mim e hoje ela se reergue novamente involuntariamente.


Da sua e pra sempre sua,

Ninguém.

Veio sem querer. Do nada deu vontade de chorar, eu temi. Temi a mim mesma e toda aquela solidão que me corroia. Eu senti um frio na espinha, minhas mãos ficaram quentes e tudo o que eu queria era que passasse. Que tudo fosse deixado de lado. Não é pra pensar em infelicidade nessa hora, mas não dá. Não dá.

Não dá pra ignorar a solidão, há anos que eu não me escuto. E hoje, quando eu parei, vi que nada me restava a não ser montes de pedaços de mim. Não me pergunte quem sou. Por favor. Por favor. Por favor.

Sinto que vou estourar, explodir como um balão, porque estou sozinha. Sou eu e eu mesma e eu não gosto de mim. Não gosto do que me tornei ou de como as coisas andam aqui por dentro. Eu juro que eu quero chorar, mas não sai uma lágrima. Nenhuma.

A solidão é cruel, necessária, mas sua crueldade é maior que a sua necessidade.

Eu me odeio. A solidão que disse.

O que eu faço com os pedaços de mim?

- e a Colombina chora, em pleno Carnaval. Sem Pierrot ou Arlequim. Chegou a sua vez.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Pra fazer as pases...



Não exija nada de mim. Não peça considerações, afeto, amizade. Não sou assim. Não sei lidar com certas situações. Vai, você sabe do que estou falando. Eu não me esforcei com você. Eu simplesmente sou assim. É, ficar com você não era ruim. Sentir sua falta era apavorante. Corrigir seus erros de português era corriqueiro. Várias coisas nesse tempo, foram muito natural. Só o fato de que tudo aconteceu de uma maneira rápida e devastadora. Me arrependo. Sim, essa é a única palavra que descreve tudo agora. Arrependimento. Não, não estou cuspindo no prato que comi. Mas preferia continuar sendo a menina que não te conhecia, que não dava Oi na academia, mas que você conhecia desde sempre. Preferia você sem o vínculo que criamos. Preferia você de qualquer maneira, desde que eu não tivesse reparado em você. Não me peça sorrisos e agrados. Educação. Maturidade. Você só terá tudo aquilo que fui com você novamente, quando eu não me importar mais. Quando você não fizer mais diferença nenhuma. Quando eu tiver aquela impressão de que você só foi mais um. Aí sim, os sorrisos farão parte. Os cumprimentos surgirão por educação. E a minha indiferença será aquela de antes. A minha educação vai voltar, mas somente quando eu conseguir olhar pra você e não sentir mais nada. E eu sinto muito, mas isso não tem conserto.