segunda-feira, 22 de março de 2010

Eu não sou suficiente.



Não sou a mais bonita, não sou a mais legal, mais simpática, mais rica, com mais contatos, eu simplesmente não sou suficiente. Não me sinto grande, não sinto que faço alguma diferença e definitivamente nunca fiz coisas importantes. Nunca fiz alguém chorar de verdade, todas as lágrimas eram de mentira. Até onde vivi uma mentira? Até quando vou escutar passos que não deveriam ser ouvidos?

Eu não sei dizer palavras bonitas, nem sei como fazer bem a alguém, talvez saiba fazer mal, mas se fiz mal foi de mentira como todas as outras coisas que não existiram. Se sorriu foi por educação. Se piscou foi cisco. Se deixou de amar, nunca amou. Aquela música nunca foi minha, os meus dias nunca foram como eu narrei. São invenções de uma mente insuficiente. Insuficiência de tudo, insuficiente de mim. Os passos ecoam, tapo os ouvidos, mas eles ainda estão aqui.

Se eu disse não era pra dizer. Se calei a boca era pra gritar. Falo demais, falo demais, nunca o suficiente, não sou suficiente. Não sou. Não sou. Pare de mentir, as malas estão sempre feitas, mesmo quando não se quer partir. O pior é ir aos poucos, o pior é ir indo, alternadamente. Mutilação diária. Eu ouço passos, eu ouço passos.

Eu não sou desse jeito que vê. Eu sou uma mentira, uma mentira mal-contada. Não sei mentir, não mais. Não tem mais brilho nos olhos, onde eles estão? Cadê? Não tenho olhos verdes e o monstro me persegue. Adivinha que não é o que eu quero, adivinha. Não fui esculpida. Não fui lapidada. Não sou arte. Nem rascunho. Sou página e ponto. Vermelho.

Insuficiente pra você.
Quem quer escutar o que não se quer ouvir?

Um comentário:

  1. Talvez alguém queira escutar... nunca se sabe! Aliás, taí a graça da vida: o não-saber eterno que nos move. É ou não é?

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